
Eles estão em todas as organizações. São simpáticos, sabem agradar às pessoas .
Ratos corporativos, ou Ratocorps
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Eles existem em todas as organizações. São parte inerente do próprio ambiente empresarial. Não vai adiantar procurar por informações em literaturas sobre negócio; pois essa espécie não consta oficialmente. O pior é que o mais provável é que você conviva com eles.
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Um ratocorp típico é aquele sujeito de inteligência mediana, mas sem chegar a medíocre, que passa na seleção da empresa muito mais pela sua capacidade de repetir chavões do que pelos seus méritos intelectuais ou criatividade.
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Ah, sim, geralmente domina o idioma inglês e sabe se portar com discrição; ou seja, fica calado sempre que possível para não dizer bobagem.
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Tímido e assustadiço até ganhar intimidade, suas características físicas peculiares ( e principais vantagens competitivas) são os olhos enormes, treinados para tudo observar, e orelhas imensas, com um design perfeito para captar todos os sons e sussuros.
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A primeira coisa que um ratocorp faz, quando ingressa na empresa, é aprender tudo sobre seus manuais e procedimentos, hábitos e idiossincrasias. Ele sabe que essas serão as futuras armas e ferramentas de trabalho.
Intuitivamente, segue com rigor a burocracia e o formalismo, pois assim não corre riscos e garante nunca ser acusado de não cumprir com o seu dever corporativo.
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Enquanto os demais colegas dão sangue e suor à operação, procurando dominar técnicas e colocar em dia o trabalho para o qual foram contratados, o ratocorp gasta energias em coisas bem menos produtivas, mas muito mais efetivas para a sua carreira. Observador atento, dedica-se a descobrir, por exemplo, quem exerce o verdadeiro poder, quais são as agendas ocultas ou os momentos críticos para aparecer à frente dos diretores. Tem a capacidade de ignorar, mas com muita classe, o chefe imediato, pois seu olhar está sempre focado em dois ou, preferencialmente, três níveis hierárquicos acima do seu.
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PARECE WORKAHOLIC — Não pense que a voracidade do ratocorp o torna antipático ou mesmo odiado pela maioria dos colegas. Pelo contrário. Ele é geralmente muito charmoso e sabe agradar às pessoas – pois depende disso. Por isso, os seus pares nutrem por ele enorme carinho e admiração, como se fosse um mascote especial. O seu desempenho abaixo da crítica será sempre relevado e jamais visto como má-fé.
Afinal, as atitudes que ele vier a adotar sempre ancoradas na funcionalidade, dentro da mais perfeita tranparência administrativa.
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Por ser excelente " relações públicas" ganha intimidade com a empresa que o abriga, desde o porteiro até o presidente. Age muito bem nos bastidores, seu verdadeiro hábitat. Depois do expediente, quando se sente mais à vontade, caminha com enorme desenvoltura, embora silenciosamente, por qualquer corredor ou sala da empresa. Sabe aparecer à frente da direção nas horas mais importantes e críticas, transmitindo sempre a imagem de workaholic. Quando a empresa fecha suas portas e a maioria absoluta dos empregados já está em casa, pode finalmente acessar computadores e escaninhos secretos.
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Muitas vezes, nas suas andanças noturnas ou mesmo feriados, abre gavetas que contêm guloseimas estocadas, por alguma gorda e gulosa secretária. Nesses casos o seu instinto fala mais alto, não tem remorso e como tudo o que encontra.
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Mas não julgue preciptadamente que ele é um cleptomaníaco ou um ladrãozinho comum. Roubar alimentos não é o seu core business, mas de certa forma um inocente hobby de quem exerce uma atividade tão solitária.
O ratocorp tem objetivos de longo prazo. Entende que, pela própria dinâmica da operação de uma empresa, ninguém sozinho consegue saber tudo ao mesmo tempo. Por isso, precisa se municiar ao máximo de informações privilegiadas para, quando chegar a hora, exercitar plenamente o poder, mas sempre de forma indireta.
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IMUNE A DEMISSÕES — Cedo ou tarde, a oportunidade de ascensão profissional acaba chegando. O diretor da área decide promovê-lo a gerente, após observar pessoalmente a sua indiscutível lealdade e dedicação a organização – principalmente quando comparadas às dos outros colegas. O desempenho do ratocorp, segundo a percepção do diretor, se traduz em uma inesgotável atividade ( " ele está sempre trabalhando" ), o profundo conhecimento da empresa ( " ele sabe na ponta da língua todos os procedimentos") e o impressionante domínio dos negócios ( " ele parece adivinhar nossas estratégias e planos confidenciais").
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A partir desse fato surge o grande divisor de águas da carreira do ratocorp. Finalmente ele é formalmente reconhecido como um de seus representantes oficiais. Mas não espere dele um comportamento profissional digno de seu novo cargo. Seja qual for a missão que receber em sua carreira, sempre vai preferir o papel de conselheiro.
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Para ele, a melhor camuflagem são atividades de staff, a sua verdadeira vocação, atividades essas de quase impossível avaliação. Se algo que ele recomendou der certo, ótimo. Se der errado ? Bem, a culpa não foi dele, primeiro poruqe não era o responsável direto pela execução; depois, porque sua idéia foi muito mal executada.
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O ratocorp é imune a demissões, pois é consenso da empresa que a sua presença é imprescindível. Quando se aposenta dezenas de anos mais tarde o faz debaixo de intensos choros e soluços de toda a organização. Chega aos mais importantes cargos de assessoria, sempre em funções bem remuneradas de suporte, mas nunca executivas. Isso porque ele não é bobo de aceitar alguma posição que o exponha a luz do dia. Sempre terá uma resposta adequada, baseada em sua modéstia ou filosofia de vida, para declinar convites inconvenientes e perigosos deste tipo.
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Afinal ele detesta desafios e riscos.
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Em sua convivência com o Olimpo empresarial, aprende que o exercício do poder é profundamente solitário.
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Os executivos nunca têm com quem falar de maneira franca, isto é, de igual para igual. A subserviência e a bajulação florescem neste ambiente. Não é raro dirigentes tomarem importantes decisões baseadas apenas na opinião de secretárias, copeiras ou motoristas – que são os seus mais leais e próximos servidores do dia-a-dia. Por isso os ratocorps representam a saída honrosa e aceita culturalmente pelo sistema para minimizar a angústia do isolamento da corte empresarial. Enfim um mal necessário. Se não existissem, precisariam ser inventados.
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Já que o aasunto é rato, pergunte a qualquer sanitarista de plantão por que todas as cidades do mundo estão infestadas de roedores e ningúem resolve o problema de vez. A resposta provavelmente, é que há um momento em que colocar veneno demais pode matar, por acidente, outros animais, plantas e até seres humanos. Por isso, os habitantes acabam se acostumando a fazer de conta que não vêem os rato, desde que estes se limitem a atuar em áreas externas e não invadam as suas residências.
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Nas empresas, há um acordo não verbal muito parecido. Todos os funcionários sabem quem são e onde estão os sanguessugas do sistema. Mas jamais os denunciam. Primeiro, porque não estão ali para delatar. Segundo, porque a empresa não é mesmo deles. E terceiro pois quem iria acreditar na existência de ratos na empresa já que estes se encontram disfarçados de workaholics. Mas esse pacto sinistro tem o seu custo. Os empregados talvez não se dêem conta, mas todo fim de mês uma parcela invisível de seus salários é abatida para sustentar colegas ratocorps. ( Texto original por Fabio Steinberg; modificado e digitalizado por João Pedro )
"O pior funcionário é aquele bom demais para ser demitido mas não bom o suficiente para ser promovido. "

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